Foi-se o tempo em que o nome Resident Evil era sinônimo de calafrios, desespero, caos, asco e todas essas coisas bacanas que constituem os fundamentos da sociedade moderna. Desde as mudanças violentas trazidas pelo pai onipotente Shinji Mikami em Resident Evil 4, a série não conseguiu mais se encontrar. Resident Evil 5deixou a desejar não pelos motivos que você lê ou ouve por aí, mas sim por não ter cumprido com o que havia prometido; os filmes que não param de surgir também ajudam (e muito) com que nós, fãs do bizarro e grotesco, nos sintamos largados, escarrados, rejeitados; The Mercenaries 3D foi uma safadeza sem tamanho, Operation Raccoon City parece um pesadelo tomando forma e, honestamente, o trailer de Resident Evil 6 não me fez gritar em regozijo eterno como já aconteceu outras vezes (vide trailer de lançamento de REmake para GCN).
Pois é... os fãs de zumbis, pouca munição, ervas contadas (não pense bobagem, mancebo) e puzzles engenhosos se sentiam como aquele singelo garoto magro de óculos, amante de dinossauros que se sentava na frente da sala de aula e era vítima constante de piadas destruidoras de caráter. Mas é justamente com o intuito de trazer vida nova a esses seres abandonados que veio ao mundo Resident Evil 'Revelaitons', ou melhor,Revelations.
Revelações do quê?
Dentre Assassin’s Creeds e Silent Hills, parece que os produtores querem revelar muito em séries famosas dos games (e suas adaptações para o cinema) ultimamente. Esse novo Resident Evil também traz como subtítulo essa arrojada palavra que incita a imaginação (só que ao contrário).
Como Revelations foi anunciado como um prequel de RE5 pensei que nos depararíamos com, pelo menos, as origens da organização de guerrilha BSAA – a aliança de combate contra armas biológicas. Mas não, Revelationstraz uma trama totalmente nova, com um elenco totalmente novo e sem sequer mencionar os personagens ou situações antigas. Uma pena, pois personagens do gabarito de um Barry Burton ou de uma Sherry Birkin precisam voltar à cena com certa urgência.
Jill Valentine, sobrevivente dos eventos em Raccoon City e da Operação Talos na Rússia, se une ao agente Parker Luciani para investigar o desaparecimento de Chris Redfield. O último sinal enviado por Chris e sua nova parceira, Jessica, vem de um transatlântico no meio do mar Mediterrâneo. Revelations se desenrola após a queda da Umbrella e o fim do grupo religioso Los Illuminados, fazendo parte da história oficial da franquia (diferentemente de Operation Raccoon City ou Outbreak).
Um tempo antes dos eventos do jogo, houve um grande atentado a um resort localizado no meio do Oceano Atlântico, a cidade de Terragriria. Mais ou menos como uma Dubai sobre a água, o paraíso para biliardários foi invadido por uma organização terrorista conhecida como Veltro. Seu líder, que aparece em vídeos portando uma máscara de oxigênio e que imediatamente remete a Hunk de RE2, é um revolucionário que detém em seu poder a evolução do T-virus, o T-Abyss. Em um dos momentos mais legais do jogo, o cara injeta a substância em peixes e o resultado é assustador.
Veltro vai contra esse “novo futuro” que Terragrigia ostentava, gerando uma forma de se viver basicamente artificial. Os temíveis Hunters dizimaram todos os habitantes do lugar e como única solução, a obliteração de Terragrigia ocorreu e as ruínas da cidade agora descansam no fundo do mar, junto com os sonhos de um mundo melhor. “É Raccoon City outra vez”, como diz Luciani em algum momento do jogo.
Revelations tem tudo que um bom game da série precisa em termos de enredo: um vilão forte, reviravoltas previsíveis (e outras nem tanto assim), gente que morre e volta (e morre de novo e volta de novo) e criaturas nojentas. Mesmo já sabendo o que esperar nesse sentido, frases como “você deveria ter trazido sua calcinha com aquecimento” foram bastante broxantes, ainda mais quando é dita por alguém como Chris (eu entenderia Leon dizendo algo assim, afinal, ele faz mais o tipo galã fanfarrão).
O’Brian, diretor da BSAA e Lansdale, chefe da FBC, são bons e trazem ótimos momentos. Lansdale, com sua pinta de Christopher Lee é um vilão nato e dita as regras de sua organização com pulso firme. Raymond, o ruivo com topete horroroso, também fica do lado dos personagens interessantes, com sua aliança dúbia durante grande parte do game. Por outro lado, personagens como a nova parceira de Chris, Jessica, e a dupla Keith e Quint são fracos e caricatos, destoando da personalidade forte de outros, como a própria Jill.
O game se divide em 12 capítulos e a história não é linear, com idas e vindas muito bem estruturadas. O final de um episódio sempre traz o ápice de uma cena que só faz com que o jogador queira mais do que tudo saber o que vai acontecer. Os cenários são variados, onde Queen Zenobia – o transatlântico perdido – soma-se a muitos outros como montanhas européias durante nevascas, a própria Terragrigia durante a invasão terrorista e até mesmo locações embaixo d’água. Pela primeira vez na série é possível controlar os personagens por cenários completamente submersos, trazendo uma ambientação totalmente nova à série e nos remetendo ao que de melhor Revelations tem a oferecer: a diversidade de sua jogabilidade.
Genesis e o casamento feliz do novo com o velho
A primeira vista, parece mesmo que reciclaram o que vimos nos últimos títulos da série: câmera próxima e sobre o ombro do personagem e armas com mira laser para melhorar a precisão dos tiros (mesmo havendo a possibilidade de atirar em primeira pessoa). No entanto, há agora a possibilidade de andar e atirar ao mesmo tempo e sei que isso já será o bastante para agradar muita gente que anda com o bico torcido para Resident Evil.
Novas implementações tornam tudo muito mais prático. Pela primeira vez num título da série você não precisará se preocupar com limitações de espaço em seu inventório. Não que ele seja ilimitado, mas agora tudo está tão bem dividido que ter essa preocupação não faria mais sentido.
A tela de toque mostra suas armas primárias, secundárias, mapa e demais itens, cada qual em seu lugar e a um dedo de distância. Granadas e armas brancas podem ser acionadas facilmente, pois fazem parte de um mesmo sub-menu. Você só pode carregar três armas por vez e há limite para a quantidade de munição de cada uma, assim como a quantidade de itens de cura carregados (e aqui só existem ervas verdes).
Você encontrará upgrades espalhados pelo cenário que dão conta desses limites. Também espalhados por aí estão baús utilizados para dar uma melhorada nas suas armas e também trocar seu arsenal. Partes customizáveis são acopladas as armas aqui, e variam de quantidade de munição limite para alcance do projétil e até capacidade de penetração. Associar um upgrade a uma arma não é um processo definitivo, então caso você encontre uma shotgun mais poderosa do que a que estiver usando, basta substituí-la e reutilizar seus complementos.
Não há mais dinheiro e os inimigos não mais deixam itens após serem mortos. Isso faz parte da nova proposta do game, a de trazer de volta o clima clássico da série. A escassez de munição e itens de cura traz sensações há muito distantes de todo e qualquer Resident Evil: o de sentir-se à mercê e subjugado.
Os momentos onde o jogador assume o controle de Jill e Parker destoam em absoluto daqueles protagonizados por Chris e Jessica. Existem surpresas quanto aos personagens controláveis, mas sempre há uma mistura muito bem feita entre ação e terror. Por exemplo, enquanto Jill investiga o assustador navio Zenobia, separada de Parker por alguma conseqüência do destino, Chris aproxima-se de algum outro ponto combatendo aberrações biológicas em seu bote com metralhadoras giratórias.
Por falar em aberrações biológicas, o panteão de monstros presentes em Revelations é muitíssimo respeitoso. Não, você não encontrará zumbis e muito menos ganados, mas sim um novo tipo de mutação conhecida comoooze. Seres humanos e criaturas do mar quando em contato com o T-Abyss sofrem alterações no estado físico e comportamental, onde homens tornam-se monstros gelatinosos que, de forma prática, preferem digerir a carne fora de seus corpos antes de devorá-las. Crustáceos contaminados voltam como monstruosidades assustadoras e que darão muito trabalho a Jill e cia e por aí vai.
Há também seres em escalas abissais que forçam o jogo a oferecer novas jogabilidades dentro da convencional, e até mesmo quando controlando o personagem em cenários submersos você precisará escapar de baratas do mar do tamanho de jogadores de basquete. É incrível pensar que em muitas ocasiões não tive munição o bastante para enfrentar inimigos e tive que fugir com o rabo entre as pernas.
Outra coisa que agradará e muito aos fãs das antigas é a tela limpa. Esqueça barra de energia e número de balas. Você agora explorará os sombrios corredores do Zenobia sem nada para te atrapalhar. Muitíssimo bem-vindo também foi o novo sistema de demonstração de dano, com a tela manchando-se de sangue conforme o personagem se machuca. Seus movimentos também são debilitados, mas uma erva (utilizada com o apertar de um botão) é o bastante para a total recuperação. Não gostei de não haver mais animação do personagem utilizando o item e isso se torna meio bobo quando você está, por exemplo, subindo uma escada ou caindo após um ataque inimigo.
Também é possível se esquivar dos ataques inimigos, em um estilo que lembra mais RE3 do que RE4-5, onde você deve mover o personagem para frente no exato momento da investida. Funciona muito bem e você terá que dominar a esquiva caso queira sobreviver ao modo Hell, uma dificuldade habilitada após o jogo ser terminado e que traz uma proposta bem sugestiva ao nome.
Os Quick Time Events vindos de RE4 e tão mal utilizados em RE5 também ficaram completamente de fora. No entanto, você ainda terá que apertar um botão enlouquecidamente para soltar-se das garras de um monstro sedento. Legal também é quando Jill ou Chris são derrubados e se arrastam pelo chão.
Uma das implementações novas mais bacanas de Revelations é o equipamento Genesis. Construído pelos técnicos da BSAA, o aparato funciona como o modo de scanear de Metroid Prime. Sem tirar nem por. Acionando-o, o jogo muda para uma perspectiva em primeira pessoa e os ricos cenários podem ser explorados com mais detalhes. Itens escondidos se revelam, assim como pontos fracos dos monstros. Scanear monstros vivos é perigoso, mas rendem uma quantidade maior de DNA adquirido. Ao alcançar 100 %, você recebe um item de cura que será – sempre – muitíssimo bem-vindo.
O recém-lançado acessório do Nintendo 3DS, o Circle Pad Pro, é compatível com Revelations. Aliás, este é o primeiro game que faz uso dele. Confesso que quando o vi pela primeira vez torci o nariz: é grande, feio, e fica ainda maior e mais feio com o 3DS acoplado. Mas daí só precisei de algumas horas para me apaixonar completamente por ele. Revelations traz uma ótima jogabilidade por si só, mas esta beira a perfeição com dois botões e um analógico a mais. Resident Evil Revelations foi feito para ser jogado com o Circle Pad Pro. Tenha isso em mente.
Rainha Zenobia, você nunca esteve tão linda
Revelations é estonteante em todo e qualquer quesito técnico. Os gráficos trazem um sem fim de detalhes e o backtracking que você será forçado a fazer torna-se um deleite por conta disso.
Todos os recursos disponíveis no 3DS foram utilizados aqui. O 3D (que pode ser regulado também por uma opção no próprio game) é de tirar o fôlego. Sem exagero: coloque o slide um pouco abaixo do máximo e selecione a opção strong para o nível do 3D. Não há como não se impressionar.
A tela de toque também é muito bem utilizada em quebra-cabeças variados e inteligentes. Em um deles, você deve registrar sua impressão digital para abrir determinadas portas. Pedi que meu irmão colocasse o dedo dele lá e a porta não abriu, afinal, é o meu dedo que eles querem.
Os efeitos sonoros são pequenos absurdos espalhados por todo canto. O passo dos personagens nas mais diversas superfícies, o ranger das roupas e equipamentos, os ruídos assustadores causados por um enorme navio à deriva... O clima de Revelations é de altíssimo nível, pareando os grandes games da série, como RE2 eCVX.
E que fique claro que tal nível não seria atingido não fosse pela incrível trilha sonora. Ouso dizer que trata-se da melhor de toda série (e que Masami Ueda me perdoe). O trabalho apresentado aqui é digno de orquestra filarmônica formada somente por compositores malditos e que querem te assustar.
Arrume um fone potente, se tranque em seu quarto e prepare-se para tomar bons sustos.
Extermínio
A prova de que a Capcom soube muitíssimo bem balancear o velho com o novo está também no modo multiplayer. Raid pode ser jogado por um ou até dois jogadores e é uma mistura do modo Mercenário de diversos outros títulos da série com o famoso Horda, de Gears of War 3.
São vinte e um cenários que revisitam todas as passagens da campanha. Antes de ingressar em uma nova missão, você deve selecionar seu personagem e seu arsenal. São 10 personagens, entre eles Chris, Jill, Parker e algumas surpresas para os fãs de longa data. Há algo interessante na lojinha de Raid, pois é possível tanto utilizar os pontos que você recebe ao completar missões, quanto pontos de Street Pass.
Tais missões aparecem de forma discreta no game: você receberá uma quantidade x de BPs caso acerte 10 monstros com ataque corporal e coisas assim. Não se preocupe em realizá-las no modo história, para não ditar as regras de como você viria a confrontar as situações. No modo Raid, no entanto, isso é necessário, pois os últimos cenários são bem difíceis e você precisará estar em um nível elevado e de bons armamentos.
Sinceramente, não esperava gostar tanto de Resident Evil Revelations. Sabia que seria impressionante nas áreas técnicas, mas não estava preparado para esse balanceio supremo entre terror e ação. Gostei tanto do formato apresentado que agora espero ansioso por RE6, porque sei que lá também haverá exatamente essa mesma proposta.
Recomendo este jogo em especial para os fãs antigos da série, que se vêem na pele do menino dos dinossauros que mencionei no começo do texto. Estava com muita saudade de sentir medo e levar Resident Evil comigo para cama, assombrando meus sonhos da melhor forma imaginável. Lembrarei do corredor que antecede a batalha final com muito carinho – e da forma mais cruel possível. Porque é isso que Revelations faz: acolhe os fãs antigos em seus braços pegajosos enquanto amamenta os fãs mais novos com aquele viscoso líquido materno.Resident Evil Revelations é uma mãe e uma rainha para todos.
A prova de que a Capcom soube muitíssimo bem balancear o velho com o novo está também no modo multiplayer. Raid pode ser jogado por um ou até dois jogadores e é uma mistura do modo Mercenário de diversos outros títulos da série com o famoso Horda, de Gears of War 3.
São vinte e um cenários que revisitam todas as passagens da campanha. Antes de ingressar em uma nova missão, você deve selecionar seu personagem e seu arsenal. São 10 personagens, entre eles Chris, Jill, Parker e algumas surpresas para os fãs de longa data. Há algo interessante na lojinha de Raid, pois é possível tanto utilizar os pontos que você recebe ao completar missões, quanto pontos de Street Pass.
Tais missões aparecem de forma discreta no game: você receberá uma quantidade x de BPs caso acerte 10 monstros com ataque corporal e coisas assim. Não se preocupe em realizá-las no modo história, para não ditar as regras de como você viria a confrontar as situações. No modo Raid, no entanto, isso é necessário, pois os últimos cenários são bem difíceis e você precisará estar em um nível elevado e de bons armamentos.
Sinceramente, não esperava gostar tanto de Resident Evil Revelations. Sabia que seria impressionante nas áreas técnicas, mas não estava preparado para esse balanceio supremo entre terror e ação. Gostei tanto do formato apresentado que agora espero ansioso por RE6, porque sei que lá também haverá exatamente essa mesma proposta.
Recomendo este jogo em especial para os fãs antigos da série, que se vêem na pele do menino dos dinossauros que mencionei no começo do texto. Estava com muita saudade de sentir medo e levar Resident Evil comigo para cama, assombrando meus sonhos da melhor forma imaginável. Lembrarei do corredor que antecede a batalha final com muito carinho – e da forma mais cruel possível. Porque é isso que Revelations faz: acolhe os fãs antigos em seus braços pegajosos enquanto amamenta os fãs mais novos com aquele viscoso líquido materno.Resident Evil Revelations é uma mãe e uma rainha para todos.
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