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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Uncharted 3: Drake's Deception




Tenho que dizer que a primeira vez que ouvi falar de Uncharted em meados de 2007, não entendi direito do que se tratava. Um suposto jogo de ação lançado pela quase desconhecida produtora de Crash Bandicoot? Confesso que nessa hora o preconceito falou alto e acabei por não dar a mínima para o lançamento. Mesmo lendo a respeito, não me interessei pelo título. Em 2009, Uncharted 2: Among Thieves foi eleito o jogo do ano por tantos sites e revistas que foi preciso ver com meus próprios olhos. E me arrependi amargamente.

Ao adentrar a vida de Nathan Drake e ajuda-lo a desvendar o segredo por trás das ruínas de Shangri-la e da pedraCintamani, me dei conta de que aquele não era um game qualquer. Foi depois de jogar o segundo durante muitas horas que fui atrás daquele primeiro jogo de 2007.

Eu precisava saber como a Naughty Dog havia chegado naquele nível de precisão. Como fazer com que tudo aquilo que acontece na tela o deixe com o coração na boca e o clima tenso como a ponta de uma faca.

A franquia Uncharted nasceu do entusiasmo de programadores que queriam brincar com a tecnologia dos videogames e criaram um personagem e uma história para colocar isso em prática. Nathan Drake é um ladrão de tesouros bonzinho, audacioso, incansável, bonito, corajoso e justo. Todas características que o transformam em um sedutor para as mulheres e o tipo de cara que todos os homens gostariam de ser. Criado o herói acrescentaram alguns coadjuvantes interessantes e uma história baseada em algum mito histórico real. E foi assim que nasceu a busca por El Dorado no primeiro game que foi usado como fôrma para  os que vieram depois.

E isso tudo foi feito para que os programadores pudessem abusar da potência do Playstation 3. Os próprios funcionários da Naughty Dog dizem que o processo criativo da empresa ocorre horizontalmente, ou seja, não existe um "chefe" que aprova ou desaprova tudo. Os funcionários chegam com boas ideias e as incluem no jogo, desta forma o roteiro que embala tudo isso é feito ao mesmo tempo em que se programa a aventura.

A ideia inicial era colocar em um game sequências que incluíssem diversos elementos na tela, mas estes objetos não poderiam simplesmente estar em cena, eles precisavam se mexer para dar tensão. Assim, Nathan nasceu em um ambiente tridimensional detalhado onde as coisas interagem entre si a medida em que explora cada uma das fases.




Como viajar pelo mundo sem sair do sofá

Uncharted 3: Drake's Deception repete a mesma fórmula, mas é o resultado da soma de todos os games anteriores. Com níveis ainda mais incríveis, o jogo é uma aventura de encher os olhos, com ação ininterrupta e cenas de tirar o fôlego. É quase como controlar um filme incrível com os melhores efeitos especiais.

Neste episódio Nathan Drake esta a procura de uma lendária cidade chamada de Iram dos Pilares ou Atlantis das Areias. A cidade que aparece em relatos antigos também com o nome de Ubar teria existido e ficaria dentro do deserto Rub`Al Khali, um dos maiores da península arábica com mais de 650 mil quilômetros quadrados. Segundo relatos antigos esta cidade de mercadores foi varrida por Deus pelas areias do deserto porque possuía um "grande mal". Essa foi a deixa da equipe de produção para criar o roteiro de U3 preenchendo as lacunas da História quase real.

O protagonista descobre que o anel que pertenceu ao seu antepassado Francis Drake pode indicar o local da cidade perdida. E assim começa a aventura que ainda tem uma organização secreta e uma vilã, Katherine Marlowe, para atazanar a vida do mocinho.   

Amy Hennig, roteirista da franquia pesquisou muito sobre o assunto até chegar ao livro de T.E. Lawrence mais conhecido como Lawrence das Arábias (leia mais aqui). Os passos que Drake segue para desvendar o paradeiro de Ubar são os mesmos de Lawrence começando pela Inglaterra, seguindo para a França, Síria e Iêmen.

Além da ideia principal desta nova aventura, também foram aplicadas pequenas "pistas” que mostram um pouco mais da vida de Nathan Drake, revelando a infância do herói na Colômbia.




Um avião em pleno ar, um navio abandonado e um deserto imenso

O avanço dos games são medidos por certas conquistas tecnológicas bastante interessantes. O primeiro foi conseguir fazer os olhos dos personagens se moverem de forma natural dentro de uma cabeça digitalizada, o segundo foi a criação de água fluída e o terceiro, prontamente realizado pela Naughty Dog, foi criar areia de forma realista. Demora bastante para ver o deserto de U3, mas quando ele aparece você fica maravilhado com tamanha riqueza de detalhes. Drake se move lentamente e suas marcas de pegadas são deixadas no deserto sempre uma diferente da outra.

O mundo de U3 é tão impressionante que o faz querer pausar o jogo só para olhar a paisagem, mas o perigo esta sempre a espreita e Drake sabe como lidar com isso.

A jogabilidade deixa claro que estamos controlando não apenas um personagem, mas "uma pessoa" que tem reações diferentes para cada situação. É quase como se você fosse soltar o controle e ele resolvesse continuar a se mexer sozinho. É uma luta entre o jogo e o jogador. Por exemplo: ao correr por ruas estreitas, o personagem não vira em um beco simplesmente, mas a curva brusca com o controle o faz colocar as mãos na parede para tornar aquilo possível, o que o desestabiliza, e automaticamente ativa a reação do jogador.

Drake continua escalando paredes, pulando e se pendurando como um macaco em locais altíssimos e por muitas vezes caindo aos pedaços, mas vê-lo fazer isso talvez seja uma das melhores partes do jogo. Prepare-se para se desesperar fugindo de um chateau em chamas, um navio de cruzeiro afundando, um cargueiro em pleno ar e mais algumas surpresas.

Na hora da ação ele, atira, luta e se defende de seus inimigos, mas com novos movimentos e acréscimos inesperados em relação aos anteriores. Em um dado momento, eu estava confrontando adversários em uma feira. Enquanto se atracava com um dos inimigos o protagonista pegou um peixe enorme que havia em uma das barraquinhas e o acertou. O mesmo aconteceu com as garrafas de Rum e um grupo de piratas que resolveram se meter na confusão. Isso tudo é divertido, mas não mais do que o momento em que Drake está batendo em alguém e resolve puxar o pino da granada na roupa do cidadão. Quando faz isso, você tem que se afastar rapidamente enquanto o cara se desespera e voa pelos ares.

A meu ver o único ponto negativo em U3 é a tradução e a dublagem em português. Ao contrário de outros analistas, não tenho nada contra palavrões (e são muitos em U3!) traduzidos, agora é inaceitável uma dublagem sem reações realistas e com pequenos erros de tradução. Diferentemente do que vemos com os atores americanos que atuam nas cenas e tem seus movimentos capturados, a dublagem internacional sofre com a eterna falta de informações. Para não quebrar o sigilo, os dubladores de outros países bem como os tradutores recebem apenas um roteiro com as falas e a descrição das reações dos personagens e é em cima disso que é feita a adaptação.  

Em relação a tradução, a impressão que se tem é a de que havia mais de um tradutor e que cada um deles foi passando pedaços de textos uns para os outros. Em um momento Nathan fala para Elena: "Sigam-me", essa sendo a tradução de "Follow me" que pode ser adaptado para singular ou plural dependendo da situação. Certamente o tradutor não sabia se naquela cena havia uma ou mais pessoas. Em outra cena, desta vez dublada,Drake escala uma torre com Sully na sua cola e diz em português: "Vamos Sully precisamos levantar isso", em inglês Drake pede a Sully que se esforce para alcançar o topo. A princípio eu não queria de maneira alguma que isso influenciasse na nota final do game, mas então vi a tradução de outro blockbuster da temporada, Batman Arkham City, e como sua versão brasileira tem legendas impecáveis. Na minha opinião, em meio a tantos jogos saindo em português o esforço de produção precisa também ser recompensado.




Multiplayer tão emocionante quanto o modo principal

Como todo bom game atual vem com multiplayer, Uncharted 3 tem o pacote completo trazendo uma versão online muito melhor do que a do game anterior. Em Uncharted 2: Among Thieves havia um modo multiplayer que trazia um modo competitivo e outro cooperativo e todos os submodos que conhecemos (DeathmatchCapture the Flag, etc). U3 possui tudo isso, além de um modo maior e mais completo de customização, cenários em movimento como aquele do avião prestes a decolar e os novos Boosters Kickbacks. Estes dois são bônus de upgrade que permitem ao jogador diferenciar ainda mais seu personagem dos outros. Os Boosters dão novas habilidades que duram a rodada inteira, enquanto os Kickbacks são mais instantâneos dando itens ao jogador por um curto período de tempo. Além disso é possível criar uma equipe e jogar DeathMatch com três times diferentes ao mesmo tempo ou dividir a sua tela em duas e jogar com duas contas da PSN simultaneamente.  
E se você for um fã de multiplayer e achar que isto não é o suficiente ainda existem nada menos do que sete DLC do game a caminho para  que seu game tenha uma boa e longa vida.

Não há dúvidas, Uncharted 3: Drake's Deception combina com maestria todos os elementos que o fizeram famoso: um gameplay interessante, uma história digna, gráficos impressionantes e um multiplayer de peso. Se você nunca jogou nenhum game da série na sua vida, tá na hora de correr atrás do prejuízo.

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