Minha experiência em RPG ocidental se resume a ter comprado os dois Mass Effect e não ter jogado nenhum deles por falta de tempo. Quer dizer, quem não quiser uma opinião leiga a respeito do assunto, pode procurar outra análise. Mas mesmo sem ser muito chegado no gênero, não havia como não dar uma olhada em The Elder Scrolls V: Skyrim. Foram três anos de expectativa (e uns cinco em produção) com a promessa de ser maior e melhor que os antecessores Oblivion e Morrowind - seja lá o que isso signifique.
Nosso protagonista, que começa sem nome e sem rosto, está prestes a ser executado por ter sido confundido com um membro dos Stormcloaks, a facção que pretende tomar o controle da província de Skyrim. Depois de escolher a raça, dar nome ao herói e editar inúmeras (na casa das centenas mesmo) opções de rosto, queixo, olhos, barba, cabelo e tudo mais, é hora de sair para buscar ajuda nessa aventura de enfrentar dragões.
A divertida (porém forrada de scripts) sequência inicial de The Elder Scrolls V: Skyrim não serve como parâmetro para nada que o jogador encontrará durante o game: o novo jogo da Bethesda é enorme, lindo e oferece liberdade quase total para o jogador fazer quase tudo o que quiser. Se a história não é tão atrativa assim, passar uma temporada lidando com as dificuldades, belezas e perigos de Skyrim com certeza será.
Tem história, mas nem tanto...
Em Skyrim, não há aquela overdose de árvores de diálogo. E isso faz a coisa toda ficar meio confusa: você precisa encontrar determinada pessoa ou lugar, mas não pode simplesmente chegar em um vilarejo e sair perguntando. Muitos diálogos são prontos mesmo e não oferecem opção alguma. Ponto negativo? Depende do ponto de vista, já que isso força o jogador a explorar mais ainda o imenso mundo de Skyrim.
A história vai ficar em segundo plano por um motivo simples: o excesso de sidequests. Em qualquer lugar que você vá, há alguém disposto a te dar uns trocados em troca de um trabalhinho. E nessa de “tá, só mais uma quest”, você percebe que passou mais de dez horas só fazendo isso e esqueceu da história principal.
Como todo RPG que se preze, dá para “pular” para as localidades já visitadas, sem precisar fazer tudo a pé ou a cavalo. Mas quer saber? Eu andei fazendo tudo na sola da bota mesmo. Os cenários são abusrdamente lindos, cheios de detalhes, cheios de elementos interativos e itens (ou animais que podem virar itens...) espalhados e que realmente servem para alguma coisa. Nada está ali por acaso.
Ter uma história toda complicada e que não precisa obrigatoriamente ir para frente traz sensações distintas: talvez a maior diversão do game seja mesmo explorar o lugar e completar sidequests, mas onde entra a trama? Quer dizer, o jogo não força o jogador a avançar na história. É um jogo livre, mas tão livre que parece um amontoado de pequenas missões desconexas. Depois de um tempo jogando as coisas começam a fazer sentido e a gente vê o trabalho que o pessoal da Bethesda teve para criar historinhas particulares em cada região, mas parece que a história principal, que deveria ser um dos atrativos em qualquer RPG que se preze, fica em segundo plano.
Mas dar liberdade total é uma característica que o jogo tem e que, sinceramente, me agradou muito. Adorei fazer dezenas de sidequests, matar vilões, procurar itens, arrumar problemas com guardas e vagar por Skyrim. Nesse ponto, o jogo é sensacional, e volto a dizer: nesse negócio de “só mais uma quest e eu vou dormir”, eu perdi a hora de acordar para ir trabalhar. A Bethesda conseguiu cumprir a mais valiosa premissa da indústria de jogos, que é a de não fazer o jogador desistir do game e fazê-lo sempre se sentir atraído. Com história envolvente ou não, Skyrim é isso.
Para quem é muito exigente, alguns probleminhas na parte técnica podem atrapalhar. Os mais visíveis são glitches que fazem o corpo do seu cavalo desaparecer por alguns segundos (tem a ver com o fato dele se tornar transparente quando a câmera se aproxima, mas às vezes buga e ele some mesmo), por exemplo. Mas em certa ocasião, dentro de uma dungeon, me meti a vasculhar atrás de um vaso que estava no canto de uma das salas e... fiquei preso. Tentei de todas as maneiras, peguei todos os itens proximos, equipei e depois me livrei das armas e armaduras, e não teve jeito: a solução para sair dali foi apelar para o bom e velho truque de carregar o último save game.
Em outra ocasião, o game simplesmente travou ao tentar carregar a entrada de uma outra dungeon. Não lembro de ter acontecido em outros games rodando no meu Xbox 360 este ano, mas aconteceu justamente em Skyrim. Longe de querer colocar a culpa na Bethesda (porque pode ter sido qualquer coisa, desde aquecimento do vídeogame nessa época de calor a puro azar mesmo), não é algo que deveria ter acontecido, principalmente na entrada de uma dungeon.
Por outro lado, os gráficos em geral são muito bons, cheios de detalhes e boa variedade nos ambientes. No PC, a boa nova é que o game não é muito pesado e ainda oferece opções que permitem rodá-lo razoavelmente bem até em configurações mais modestas Mas destaque mesmo é a parte sonora, com uma trilha de primeira qualidade que vai fazer até o mais pagodeiro dos jogadores se render ao som épico da era medieval.
Overdose de sidequests (ainda bem)
The Elder Scrolls V: Skyrim é lindo, grandioso e épico, mas no fundo, ainda é uma coletânea de sidequests dentro de um jogo com enredo desconexo, meio sem pé nem cabeça e que não precisa ser seguido. Os caras realmente não fizeram questão de contar uma história aqui, muito menos fazer o jogador se interessar por ela. Porque é simplesmente mais cômodo trocar uma ideia com a galera e fazer uma centena de missões secundárias (que eu repito, são muito divertidas) do que ir se preocupar com a história. Tentei seguir a trama, mas tudo fluiu numa lerdeza tão grande que eu preferi voltar aos trabalhos como matador de bandidos e explorador de lugares inóspitos, com pausas para curtir uns drinques de língua de dragão pelo caminho. Não que eu não estivesse gostando disso tudo, diga-se.
Numa dessas de andar em busca dos alvos e pessoas para completar quests, resolvi tirar uma soneca em uma espécie de hotelzinho fuleiro em Riften que oferecia quartos para pernoite por 10 gold. Meu boneco com cara e pelos de gato precisava descansar para encarar uma investida à Goldenglow Estates, então dormi por lá mesmo. Acordei e fui surpreendido por uma ninja (na falta de substantivo melhor) que me ameaçou de não me deixar sair do local caso não descobrisse quem era e matasse uma certa pessoa (de três) que estava no lobby. Tive que conversar como todos e mesmo assim demorei para descobrir quem era. Matei a pessoa errada de propósito, para ver qual surpresa o game me reservava agora. Aí a tal guerreira, que se revelou parte do Dark Brotherhood, veio me xavecar e ainda disse “te vejo em casa”. Insano é pouco.
É uma sensação parecida com a de jogar Forza Motorsport 4: eu fico lá jogando as corridas da lista de eventos sabendo que vai ser tudo igual e que o único objetivo é chegar em primeiro lugar, mas eu passo o dia todo fazendo isso com gosto. Com Skyrim, é mais ou menos a mesma coisa, mas com sidequests de RPG. Pensando a fundo, ser agradável de jogar é o que acaba mantendo as pessoas atraídas por The Sims Social, no fim das contas. Até por isso, The Elder Scrolls V: Skyrim é um jogão. Quem topar seguir a história poderá se perder no meio do caminho em meio a tantas missões tentadoras, mas não tem problema: o jogo é bom desse jeito. Pena é que os glitches, bugs e uma certa demora no carregamento da entradas dos vilarejos e dungeons deem uma quebrada na ambientação toda.
Algumas missões mesmo também decepcionam. Do lado dos Stormcloaks, por exemplo, há uma missão logo de início que, a princípio, tinha tudo para ser uma batalha mais ou menos épica entre eles e o pessoal do Império em Whiterun. Sem querer estragar a surpresa, o objetivo é invadir o reduto deles e render o líder, depois de, obviamente, enfrentar uma pequena horda de soldados. E aí começamos a ver algumas falhas no sistema de batalha. É tudo em tempo real, mas falta precisão, e é muito fácil se pegar acertando o companheiro em vez de inimigo. Para completar, com uma arma boa em mãos (no caso, um Orcish Warhammer) foi muito, mas muito fácil acabar com os guardas.
Entre para nunca mais sair
Nos controles, nada do que reclamar. The Elder Scrolls nasceu no PC, mas a Bethesda fez um belo trabalho ao adaptar os comandos para o controle dos consoles. O menu de itens, magias, mapa e evolução de habilidades é muito fácil de usar - é só segurar o botão B que a ação para para o jogador navegar por eles. É tudo fácil de encontrar, tudo organizado, tudo acessível.
Por essas facilidades toda e pelo climão de primeira, dá para dizer que não é questão de hype: Skyrim é realmente muito atrativo desde a primeira quest. Quem nunca jogou um RPG na vida vai curtir porque o game é extremamente bem feito, fácil de jogar e com menus, mapa e quests fáceis de entender. Nem chega a ser um ponto negativo o fato da história ir se perdendo conforme o jogador vai encarando as side quests, porque dá muito bem para se tentar se manter focado. É só ter força de vontade, porque cara, o mais legal é mesmo se perder nas dezenas de missões.
Vai ser fácil superar umas 70 horas de jogo sem ver tudo o que ele oferece. De frágil, apenas os probleminhas técnicos, glitches e o tempo de carregamento na hora de entrar nos vilarejos, que não arruinam a ambientação do jogo, mas podem frustrar um jogador mais exigente. Relevando tudo isso, The Elder Scrolls V: Skyrim é altamente recomendado, mesmo para quem nunca viu um RPG na vida.
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