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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Análise War of the Worlds





Você muito provavelmente já ouviu falar em Guerra dos Mundos. Para a molecada, associar ao filme de Steven Spielberg com Tom Cruise – péssimo remake do clássico de 1953, diga-se de passagem – seria o mais óbvio. Para quem se interessa de forma um pouco mais aprofundada por literatura e ficção-científica, o nome H. G. Wells vêm à mente no primeiro momento. Àqueles mais ligado ao mundo audiovisual, a ligação com Orson Welles é mais evidente.

Seja lá como for, Guerra dos Mundos nasceu como uma  das obras literária mais influentes dos últimos 150 anos. Todos esses extra-terrestres, discos voadores e invasões alienígenas que vemos às pencas hoje em dia em todo tipo de mídia possível teve em uma de suas gêneses o clássico de H. G. Wells de 1898. O livro aborda questões nucleares, raios gama de dissipação de calor, problemas com camada de ozônio e mais uma porrada de coisas que se formos pensar hoje em dia, foi praticamente uma premonição.

Daí, no início do século passado, um tal de Orson Welles, gênio do cinema e das produções audiovisuais, resolveu, por diversão, criar um programa de rádio baseado na obra do pioneiro H. G. Wells. A obra foi um precursor no estilo mockmentary de ser – essas lances que simulam a realidade, mas que na verdade são ficções – e quase gerou o caos absoluto na América do Norte. O pessoal chegou a acreditar mesmo que o mundo estivesse sendo invadido por alienígenas, tamanha a veracidade das atuações e efeitos sonoros.

“Mas por que toda essa introdução?”, você talvez esteja se perguntando. E a resposta é bastante simples: o jogo em questão aqui, The War of the Worlds, é péssimo. Uma obra da importância de Guerra dos Mundos merecia ser representado no mundo dos videogames de uma maneira mais digna, mas o que temos aqui é um FlashbackLimbo que deu muito, muito errado.



Patrick Stewart é Arthur Clarke

TWotW tem início em meados dos anos 50, em Londres, exatamente quando seres monstruosos começam a emergir do chão. Diferentemente do que pensávamos, os aliens já se encontravam em nosso planeta, em um estado de criogênese e vão, pouco a pouco, despertando. A ameaça que vem de fora serve de suporte para a invasão e dominação eminentes.

Você assume o controle de Arthur Clarke – e aqui mais uma pausa: este não é o protagonista de Guerra dos Mundos original. Arthur Clarke é, ao lado de Isaac Asimov e do próprio H. G. Wells, o maior escritor de ficção-científica de todos os tempos; uma bela homenagem – um cidadão normal que perdeu a família nos ataques e tenta desesperadamente manter-se vivo. Clarke é narrado pelo ator britânico bastante recorrente no mundo dos games Patrick Stewart, visto recentemente dando vida de maneira excepcional a Zobek, em Castlevania: Lords of Shadow. Mas, infelizmente, a história é sempre contada de maneira simples, sem animações ou algo que o valha, e a ótima dublagem se perde em meio ao fato de você ter que controlar o personagem e tentar manter-se vivo durante as narrações, ao invés de propriamente escutar e entender a trama.

Arthur Clarke irá cruzar por diversos locais da velha capital inglesa e todos são retratados com uma bela qualidade artística. A primeira vista, é impossível não nos lembrarmos do cineasta Tim Burton, dada a natureza obscura das cores e sombras. Mas, infelizmente, toda qualidade estética do jogo cai por terra quando nos deparamos com a péssima qualidade dos controles e o estilo “maquete” de ser. Como em muitos outros games exclusivos para download, como Outland LimboTWotW é todo visto em perspectiva 2D, apesar de os gráficos serem em 3D. Imagine a seguinte cena: você em meio a uma multidão de populares corre pelas ruas e tenta escapar dos raios lasers dos inimigos. Você se sente um ser insignificante ali, e essa sensação é muito bem explorada no jogo. Mas quando os prédios desmoronam, o chão explode e pedaços de terra e concreto voam pelos ares, a sensação que temos é a de que os personagens estão num cenário extremamente superficial e montado. É feio ao ponto de estragar as qualidades estéticas que encheram os olhos anteriormente.



As sobras do Limbo

Por falar em explosões e raios lasers, a morte é um estágio dominante em TWotW. Como em Limbo, temos aqui um jogo de tentativa e erro. Você morre inúmeras vezes até aprender exatamente o que deve fazer para prosseguir. Mas, diferentemente de Limbo, a frustração é um estado latente nas aventuras de Arthur Clarke. Raios lasers gigantes são disparados minuto a minuto, numa onda de morte quase que inevitável; Qualquer altura é o bastante para matar o pai de família, enquanto que alienígenas menores se divertirão com suas entranhas, caso o vejam por aí. Há muitas maneiras de morrer nesse jogo e isso acontece de minuto a minuto. E isso não é legal, acredite.

Tudo o que você pode fazer para tentar sobreviver é correr, pular e, no máximo, rolar (muito útil caso você esteja em chamas). Se você já jogou Out of this World sabe bem o que encontrar aqui. Mas, ao contrário do clássico de Eric Chahi, essa jogabilidade travada parar correr e pular não se encaixa em um jogo que é praticamente uma fuga eterna. Até mesmo cruzar uma simples caixa de madeira, por exemplo, se torna um desafio onde você deve parar de correr, soltar o direcional, e aí sim apertar o botão de pulo.

Além disso, os check points são extremamente inconstantes. Por muitas vezes você terá que refazer muito do que havia avançado, enquanto que em outras ocasiões você voltará apenas alguns passos atrás de sua morte. Em uma parte em especial, você deve percorrer pelas pernas de um tripod – aqueles ETs gigantes com três pernas finas de metal, inspiração para um dos inimigos mais famosos de Half-Life 2. Muitas armadilhas estão pelo caminho, envolvendo correr, parar e pular no tempo certo para evitar os lasers. Leva cerca de 10 minutos para cruzar toda essa extensão e na última série de lasers da morte você pode cruzá-los por cima ou por baixo de uma plataforma. Acontece que caso você resolva ir por baixo e morra, você voltará exatamente dali, enquanto que indo por cima e resultando em morte, você terá que voltar toda essa parte do Tripod do início. É ridículo e você não precisa disso. Não mesmo.



Nem via PSN/Live

The War of the Worlds é um jogo que você provavelmente nunca ouviu falar e muito menos irá jogar. Estou aqui só cumprindo uma árdua tarefa de fazer questão de que você não perca tempo jogando mesmo. Apesar de custar módicos 10 dólares (ou 800 MSP), não há o bastante em TWofW para desviar sua atenção da atual avalanche de lançamentos de peso.

Caso você seja um fã absurdo dos jogos de plataforma e aventura de algumas gerações passadas, pode até tentar encontrar algo a ser agraciado aqui. Mas caso você seja um entusiasta da ficção-científica, um leitor assíduo da época áurea da literatura espacial, cuspa na cara deste jogo que não tem propósito em existir. Não bastasse ter péssimos controles e um visual aestésico que não passa de uma grande farsa, este game tem como inspiração uma das obras literárias e audiovisuais mais importantes e influentes de nossa época e falha miseravelmente em entregar uma experiência no mínimo decente. Tripods despedaçarem os desenvolvedores e seus familiares seria uma punição muito, muito amena.


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