Mortal Kombat vs. DC Universe foi um dos games mais procurados pelos leitores do Omelete durante o ano de 2008. A idéia da Midway de reunir os personagens dos dois universos - o dos lutadores dos games e o dos heróis dos quadrinhos - despertou enorme interesse nos fãs de ambas as franquias.
A gênese do projeto começou com Ed Boon, criador de Mortal Kombat, que sabia que precisava introduzir alguma novidade dramática à série para mantê-la interessante. Inicialmente ele queria um crossover com a linha Street Fighter, mas isso não deu certo pela competição acirrada entre as duas e o iminente lançamento do aguardadíssimo Street Fighter IV. Assim, optou por juntar Superman e Raiden, Batman e Sub-Zero, já que um contato com executivos de licenciamento da DC Comics facilitou o processo.
Unir dois universos tão distintos, no entanto, era algo que exigia uma explicação razoável. Afinal, especialmente os fãs da DC buscam uma certa lógica em cada mídia em que seus personagens favoritos aparecem. Para resolver o problema foi contratado o quadrinista Jimmy Palmiotti, que deveria criar uma história que explicasse todos os porquês desse encontro. Acontece que Palmiotti é muito melhor arte-finalista (Demolidor) que escritor (Deadpool, Filhas do Dragão) e já havia provado ser uma escolha ruim para escrever roteiros de games ao cometer o jogo do Motoqueiro Fantasma.
A base da história criada por ele até que é passável: Depois de uma invasão de Darkseid à Terra o planeta está parcialmente destruído. Um acidente com um Tubo de Explosão (os portais que o regente de Apokolips usa para se teletransportar), acaba por conectar o nosso universo ao universo místico de Mortal Kombat. Aos poucos, como na série Crise nas Infinitas Terras, os dois planos iniciam uma fusão que inevitavelmente arruinará ambos.
O modo de história do game pode ser acompanhado dos dois lados. Optando por DC ou MK, você controlará quase todos os personagens disponíveis daquele universo. A trama é narrada em capítulos e segue heróis e vilões em sua tentativa de compreender o que está acontecendo. Tudo, claro, entremeado por MUITOS combates. Há algumas boas idéias que reúnem narrativa e jogabilidade, como o medidor "RAGE" (raiva), um elemento fundamental à trama, que infecta personagens fazendo com que eles esmurrem uns aos outros sem pensar muito. Essa manifestação - que deixa os olhos dos personagens amarelos - também equilibra os poderes, fazendo com que alguém menos poderoso como o Coringa, por exemplo, possa encarar o Superman (debilitado pela natureza mística da fusão de universos) de igual pra igual.
A lista de personagens selecionada é decente. Tem Batman, Mulher-Gato, Exterminador, Flash, Lanterna Verde, Coringa, Lex Luthor, Capitão Marvel, Superman e Mulher-Maravilha do lado da DC Comics. No universo MK estão Baraka, Jax, Kano, Kitana, Liu Kang, Raiden, Scorpion, Shang Tsung, Sonya e Sub Zero. Os grandes vilões Darkseid e Shao Khan são destraváveis.
O problema do modo de história é que fica difícil ignorar os buracos estúpidos no roteiro. Ora, se você se propõe a realizar uma HISTÓRIA, o mínimo que tem a fazer é torná-la coerente com os personagens que têm à disposição. São tantos momentos vergonhosos que é difícil enumerá-los todos... mas vale dar alguns exemplos do tratamento capenga do texto de Palmiotti: 1) Logo no começo a Mulher-Gato realmente acredita que fugiu do Flash (sim! o homem mais rápido do universo!) com duas piruetinhas para trás. 2) Depois de vencer o Coringa em combate, o Cavaleiro das Trevas pede ao vilão que "fique aqui" enquanto vai investigar algo... "Santa inocência, Batman!" 3) Pra completar, depois de uma dramática cena em que consegue dominar a "raiva" e voltar ao normal, Superman parte para encarar o chefão do game e... volta a ser dominado pela raiva sem explicação, algo extremamente anticlimático! Como esses há dezenas de erros que irritam quem espera mais do jogo do que simplesmente detonar o controle com combos e golpes especiais.
É o tipo de coisa que dá o que pensar. A indústria dos videogames se gaba de ser mais lucrativa que a do cinema. Mas pela tenra idade deveria se espelhar um pouco mais na prima mais velha e perseguir mais coerência narrativa. Afinal, até hoje não há um Casablanca nos games...
Entendo, porém, que Mortal Kombat vs DC Universe seja um game de luta, então passemos à análise do elemento principal. Visualmente, o produto é ótimo, os modelos dos personagens e o design dos cenários estão muito bacanas e é possível observar lutadores com detalhes na parte de "extras" (note o que parece ser celulite na perna da Mulher-Maravilha!) Os efeitos dos golpes especiais também são bem empolgantes. O Capitão Marvel e Raiden - que usam raios e eletricidade - são dois dos mais interessantes. Já a jogabilidade tem a mesma movimentação 3-D das últimas instâncias de Mortal Kombat com algumas novidades, os combates em queda-livre, de proximidade ou através de paredes.
No primeiro, quando um lutador chega ao canto de uma arena, ele pode jogar o outro para fora até chegar à arena abaixo. O agressor ataca enquanto o defensor tenta esquivar-se e reverter a situação. Na hora da aterrisagem, quem estiver como defensor sofre os danos. Já o combate de proximidade é uma breve e intensa briga corpo-a-corpo em close-up. O último é simplesmente uma corrida arrebentando paredes. Quem apertar botões mais rápido vence e causa mais dano. São todos interessantes e boas alternativas ao clássico combo pula/soca/chuta/lança magia.
O game exige algumas horas de aprendizado para que se possa entender direito cada personagem e seus golpes. Mas depois que os movimentos estão dominados, fica bem mais divertido massacrar seus oponentes no clássico modo "Arcade", que destrava finais para cada personagem.
Os fãs de Mortal Kombat, porém, vão se decepcionar com os fatalities, uma das marcas registradas da série. Originalmente violentas, nojentonas e criativas, essas finalizações foram alteradas para que o jogo pudesse receber censura mais amena, já que inclui os famosos heróis e vilões DC. Os super-heróis, aliás, têm finalizações "heróicas" e não matam ninguém. Nada de colunas vertebrais pingando sangue e corações ainda batendo, portanto.
Se tivesse um texto mais refinado, combos e golpes especiais mais amigáveis (alguém ainda precisa lembrar que não é todo mundo que gosta de esfolar os dedões no direcional) e alguns outros modos de jogo, Mortal Kombat vs. DC Universe poderia conseguir uma vaga entre os grandes games do ano, honrando a enorme expectativa dos fãs. Não foi desta vez. De qualquer maneira, é garantia de algumas boas horas de diversão.
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